sexta-feira, dezembro 15, 2006

Tudo se me evapora

ADORO Fernando Pessoa quase como as meninas da época adoravam Elvis Presley e Beatlles. sou fã. acho que ele foi um gênio doido, como todos os gênios, e me identifico demais com muitos dos escritos dele e "suas pessoas". então ontem de madrugada, lendo passagem das horas (um de seus poemas),eu me atrevi a re-escrevê-lo, modificando um pouco por coisas que vivi e senti,ou vivo e sinto,ou nem uma coisa nem outra... Enfim,segue abaixo o escrito metade Fernando Pessoa, metade eu mesma. Porque metade de mim é loucura e a outra metade também!!

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que não se pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todas as cidades a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas de ônibus,avião ou carro
Ou das janelas da alma, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

A entrada de Colônia, de manhã, cor cinza,
A areia branca de Cancun em paisagem cálida,
Veneza a uma hora da noite...Milão na madrugada...Acordo de repente
E aquilo soa-me do fundo como uma outra realidade...
A paisagem inebriante de Puerto Escondido ao pôr-do-sol...
Sair de lá é difícil...
La Boca, Punta, terremotos na Cidade do México...
Enchentes em torno do Tietê.....

Viajei por algumas terras...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu feliz e infeliz.

A certos momentos do dia recordo-me tudo isso e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados,
Desta estrada ás curvas, destes avisos,
Desta turbulência tranquila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência de pessoas diferentes,
Deste desassossego no fundo de todos os cálice,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres.

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto de apoio na inteligência,
Entendimento quanto ao mistério das coisas,
Ou se há outro significado para isso tudo, mais cômodo e feliz.

Seja o que for, as vezes penso que era melhor não ter nascido,
Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as convenções,
E ir ser selvagem, entre as árvores, o mar e esquecimentos,
Entre novos amores e perigos e a ausência de pensar no amanhã.
Cruzo os braços sobre a mesa, ponho a cabeça sobre os braços,
É preciso querer chorar, mas não sei ir buscar as lágrimas....
Tenho a alma rachada por lembranças e recordações e esquecimentos e penas...
Ó vida. Que há de ser de mim? Que há de ser de mim?

Ó loucura imensa do mundo, o que falta é agir...
Só estou bem quando ouço música,
Como um bálsamo que não consola senão pela idéia de que é um bálsamo.

A tarde de hoje cai pouco a pouco,a vida substitui-se.
E sendo a que sempre quis partir, fico, fico, fico....
Torna-me humana ó noite.
Só humanamente é que se pode viver.
Só amando os homens, as boas ações,a banalidade dos trabalhos,
Só assim - e ai de mim! - só assim se pode viver.

Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,
E tudo o que sobrou foi muito,
Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos, amei e odiei como toda a gente,
Mas para toda a gente isso foi normal e instintivo,
E para mim foi sempre intenso, a excessão, o choque, o calor, a válvula, o espasmo.

Cometi todos os crimes, vivi dentro de todos os crimes.
Multipliquei-me para me sentir,
E para me sentir, procurei sentir tudo,
Despi-me, entreguei-me,
Acenaram no meu coração os lenços de todas as despedidas,
Rendez-vous a vermelho e negro no fundo-inferno da minha alma,
E há em cada canto da minha alma um altar para uma emoção diferente.

Meu coração tribunal, meu coração mercado, meu coração balcão, meu coração banco de jardim,hospedaria, estalagem, calabouço,cancela, excursão, viagem, leilão, feira,arraial,hardcore..
E lálálálálálá...meu coração qualquer coisa!
Sentiu tudo de todas as maneiras.
E a vida dói quanto mais se goza e quanto mais se inventa.
Eu de cabeça para baixo dentro da minha consciência...

Cavalgada desmantelada por cima de todos os cismos,
Pensamento que entra com velocidade e choca de encontro a todos os sonhos e parte-os.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo...
Cavalgada energética por dentro de todas as energias,
Cavalgada dentro de mim,por dentro deste fogo que arde, da poeira parada, da tosse seca, da gargalhada súbita, do inevitável que é vital, da vontade, do desejo, do sufoco, dos rodopios do meu coração.
Estremeço dentro de mim e começa a entardecer....

Um comentário:

Anônimo disse...

Você é louca!!!!
Mais que demais!!!!!!!!
Você é louca sim!!!!!!!!!!!!