segunda-feira, setembro 24, 2007

everything between the guitar and the stars.

Ela nao avisou que chegaria.
Ele nao avisou que estaria lá.
A volta nao era por ele, senao por razoes inquietantes dentro dela mesma. Simplesmente um dia acordou e ao abrir os olhos decidiu, e foi-se. Era sempre assim, conforme ventava, conforme dava na telha, tinha as rédeas da própria vida desde muito cedo.
Entraram no carro, depois de ele ter dado a ela um livro de presente, um livro de um poeta que ela adorava, ele sabia que ela adorava ler, e adorava poesias. Na época em que se viam quase todos os dias, liam um para o outro, desde a sujeira de Bukowski, a doçura de Eduardo Galeano. Liam e descobriam músicas o tempo inteiro, gostavam do mesmo buteco na Cidade Baixa,entre tesao e desejos e um dos melhores sexos ja experimentados.
Foram até o mar. A música era de quebrar a cama e o vinho era tinto.
Nao era preciso vinho, nem música, os corpos e mentes se entendiam no silêncio, no abtrato do que sentiam um pelo outro. Fazia dois meses que nao se viam ou tocavam, e entre eles nao havia um sentimento que os mantivesse juntos. Sabiam e sentiam que era a flor da pele e sabiam que iria passar, mas nao antes de que se experimentassem em vários sabores, nao antes de que bocas e línguas desvendassem cada centímetro de pele, e nao antes do fim.
Naquela tarde e durante todo o final-de-semana, se amaram um milhao de vezes, nao havia promessas, nao havia o que cobrar, havia desejo e saudade, havia também carinho e duas criaturas apaixonadas por descobrir.
Sempre partilharam sonhos, sexualidade, alguns medos e vivências, mas nunca se entregaram. Uma vez até tentaram, por dois dias e no segundo dia ele disse a ela que a queria para toda a vida. Ela nao acreditou, levantou da cama e foi para casa, com o gosto dele na boca e uma parte de si modificada para sempre.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Olfato.
Sentido tao peculiar, abstrato e marcante.Um cheiro pode ficar guardado na memória durante anos. Um cheiro evoca lembranças, fica na pele, na roupa, relembra, encanta, atiça o apetite, enjôa. Eu ainda hoje consigo “sentir” o cheiro da casa da minha avó, da carne picadinha que ela fazia, da sopa com pés de galinha, o cheiro dela quando raríssimas vezes me dava um abraço. Nao lembro um cheiro específico que teve a minha infância, mas lembro que foi divina, e posso sentir agora o cheiro da minha mae, dos lencóis da minha cama na casa dela, o cheiro bom que ela tem nos cabelos e na alma.
Algumas pessoas para mim sao estaçoes do ano, outras sao perfumes, cheiros, essências. Tenho cheiros na memória que me aproximam do sentimento, eu lembro do cheiro e posso sentir a textura da pele em minhas maos, o olfato vira tato. Como é bom cheiro de roupa limpa, dos meus gatos quando dormem enroscados, de grama recém cortada, de comida caseira, de água do mar, de terra molhada pela chuva!
Cheiro inesquecível tem quem a gente ama, é aquele cheiro especial que ninguém mais tem, ainda que use o mesmo perfume, é o cheiro que alerta e tranquiliza, que entra pelo nariz e percorre cada víscera, cada veia, cada sentido...e adormece. É a essência que nao é comprada em loja, que nao vem em frascos, nao tem receita nem uma nota específica, é o cheiro que faz falta, que nao se esquece, que se compara, que se quer guardar num frasco para cheirar todas as noites antes de dormir. É cheiro bom, que perfuma a vida.
Quando eu tinha uns sete anos, meu pai viajou a trabalho e passou uma semana fora, eu achava que ele tinha ido embora e peguei uma camiseta dele para cheirar. Dormi junto com a camiseta aquela uma semana, até que ele voltou e fez do seu cheiro presença novamente, e eu agradeci ä camiseta por tê-lo trazido de volta.



quarta-feira, setembro 12, 2007

i just don´t know why!

Eu ja amei, me guardei, eu ja tentei, aceitei, acreditei, fugi e voltei.
Eu ja brinquei, me enganei, tentei esquecer, esqueci, quis nunca mais lembrar e nunca mais lembrei.
Eu embarquei, nao analisei, de novo tentei esquecer, nao esqueci, nao vou esquecer.
Eu ja me achei e me perdi e me achei e perdi e nunca me sei.
Eu vou parar, vou frear, vou voar e tentar voltar.
Eu vou olhar, escutar e voltar a amar.
Desculpe a ausência, a essência, ser assim tao intensa.
Desculpe tantas palavras e frases soltas, pensamentos desconexos e as retiscências.
....Desculpe as retiscências....
Eu guardo segredo, tenho medo, nao faça de mim um brinquedo.
Eu faço o meu enredo, eu tento dormir,e nao acordo cedo.
Eu ando longe do meu ninho, tento mudar o passo mas nao o caminho, e aquí em mim há algo preso entre minha pele e minha alma.
Eu detesto conveniências, nunca fui de obediência e perdi a consciência esperando que a vida conspirasse a meu favor.
Por favor!
Nao quero estar segura, salva e fora do amor. Eu vivo dentro da confusao que me habita, quero morrer de amor, morrer do coraçao com a nossa apariçao.
Eu ja me aproximei da inteireza, trabalhei para ter só o cansaço, jurei ter certeza.
Eu me resguardo da linha do desvio, me guio pela loucura do universo e precipito-me...Declina dentro de mim o sol no alto do céu, do que um dia foi uma mancha amarela tranformada no sol...precipito-me,e chove, em meus olhos nao pára de chover.