quarta-feira, abril 02, 2008

The Space Between


Alguém me diz o dia em que resolvi ir embora? Voa menina, voa! A voz que sempre existiu lá dentro, a voz que cala por uns tempos e volta a incomodar.
Só consigo lembrar do dia em que me imaginei num jardim de girassóis e saí na busca desenfreada, e entre sorrisos e lágrimas, foi tudo um pouco do que imaginei e um pouco diferente do que imaginei. Anos depois, encontrei esse jardim, há duas horas da casa dos meus pais, em companhia de um milhão de novos planos na cabeça. Entre eles, começar o meu próprio jardim de girassóis. Previsão para as próximas horas é algo que eu não sei dizer, porque tudo é transbordamento até a temperatura chegar à harmonia, é tudo muito humano e pouco racional.
E eu vou tentando juntar os pedaços, fragmentos de uma vida vivida pelo momento, com a trilha sonora que só meus ouvidos reconhecem, com um contentamento descontente por saber e pensar e sentir que tudo é provisório, e que o tempo é uma desculpa aonde se passa a maior parte do tempo sonhando. Eu relembro lugares, cores, sabores e encontros e desencontros. Não sinto saudade senão uma sensação utópica de que a vida antiga era a vida real. Não era. A vida real é o amanhecer de hoje, é ser – estar – sentir-se entre dores e amores, nascimentos e mortes; é não sucumbir aos mesmos erros, é essa inquietante sensação de ter braços, pernas e ossos e nervos presos ao chão da cidade aonde vivo.
O desconhecido que me habita me faz a cada dia ser mais cruel e melhor e mais generosa e pior. Viver e ser admirado é insuportavelmente pesado, morrer e ser admirado é insuportavelmente duvidoso. Não acredito em quem não tem nada a esconder, não acredito em quem não olha nos olhos, em quem nunca enlouqueceu; eu não acredito e não tenho troféu para levar para casa. Mas ainda lembro do dia em que eu e você em qualquer lugar pensamos e sentimos que o vento estaria sempre a nosso favor. E não importa o tempo ou o lugar, algumas coisas sempre serão nossas. Minhas e suas, enquanto houver sol para os girassóis.

Um comentário:

Nádia Lopes disse...

que coisa mais bonita isso!!!
"Enquanto houver sol ainda haverá"...ou como me fez lembrar meu super amigo, também numamusica "em nós, o sol há de sempre existir!"
beijos primaveris